O Cemitério Marinho / Le Cimetière Marin

R$75,00

IAutor: Paul Valéry
Trad.: Roberto Zular e Álvaro Faleiros
Capa Dura – 16×23 cm – 60 págs.
ISBN 978-65-990468-6-5

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Em torno de Le cimetière marin, de Paul Valéry: traduções brasileiras

Poucos poemas mereceram tantas traduções e retraduções publicadas em contextos tão distintos quanto Le Cimetière Marin. A escolha de Borges em incluir entre as obras de Menard uma versão em alexandrinos do clássico poema decassilábico de Valéry não passou desapercebida. Para João Alexandre Barbosa, “a reescritura operada por Menard, na medida em que atinge o núcleo da intenção de Valéry — quer dizer, a elevação do verso decassílabo à suposta superioridade do alexandrino — é, ao mesmo tempo, como a reescritura do Quixote, invenção e crítica da leitura….”. A questão colocada por Valéry diz respeito à história do decassílabo e do alexandrino na França, o que nos permite pensar que, como “invenção e crítica da leitura”, a reescrita do poema em alexandrinos numa língua em que o decassílabo é o verso heroico pode ser um modo válido de produzir um giro no tipo de correspondência possível entre o original e sua tradução. Outro aspecto a se destacar é que uma tradução de Le Cimetière Marin não parte, como no momento da criação de Valéry, de uma figura vazia, mas de um texto concreto que preencheu esse vazio. Assim, diferentemente do poeta francês, o tradutor não está diante de um ritmo anterior, e tem de lidar com o ritmo interior que é o complexo sintático, semântico e sonoro que o texto de partida apresenta. Como diz João Alexandre: “a tradução: a leitura interna do movimento nos interstícios do texto”. E esse espaço onde se produz leitura, invenção, crítica e tradução é um lugar dado historicamente. A historicidade da (re)tradução de Le Cimetière Marin produziu este nosso tempo, em que a historicidade do verso emergiu da interioridade do ritmo, levando-nos a um borgeano cemitério dodecassilábico.     (Roberto Zular e Álvaro Faleiros)

Sobre o autor

Ambroise-Paul-Toussaint-Jules Valéry (1871-1945) escritor, poeta, ensaísta e filósofo francês é o principal representante da chamada poesia pura. Como prosador e pensador (se considerava um antifilósofo), a leitura e o comentário de seus textos influenciou autores como Theodor Adorno, Octavio Paz e Jacques Derrida. Na adolescência pensou em tornar-se marinheiro, mas alguns contratempos o obrigaram a desistir da preparação para o ingresso na Escola Naval. Em 1889, iniciou os estudos de Direito no Liceu de Montpellier. Suas recordações dessa época são o grito da alma de um poeta obrigado a conviver com o tipo de ensino que ainda hoje perdura em todas as sociedades: “a estupidez e a insensibilidade parecem-me inscritas no programa. Mediocridade de alma e total ausência de imaginação entre os melhores da classe ”. Naquela época, suas principais atividades consistiam em ansiar pela frustrada carreira de marinheiro (“Estou embriagado com a beleza das coisas do mar e me esforço para apreender sua arriscada e triunfante beleza”, escreveu em 1891) e para descobrir, a partir de a leitura de Contra a corrente, de Huysmans, a literatura e a obra de poetas como Baudelaire, Verlaine, Rimbaud e mais tarde Mallarmé. Já então encontrava na arte “a única coisa sólida”, na metafísica “nada mais que tolice”, na ciência “um poder especial demais”, na vida prática “uma decadência, uma ignomínia”. Em Montpellier conheceu Pierre Louys e, através dele, André Gide, com quem consolidaria uma amizade duradoura. Foram os primeiros ouvintes dos versos que escreveu e que seriam publicados na revista La Conque (fundada por Gide, Léon Blum e Henry Béranger), e do poema Narcisse parle, posteriormente publicado no LʻErmitage. Em 1892, na noite de 4 para 5 de outubro, uma crise que ficou conhecida como Noite de Gênova ocorreu em sua vida, por ter ocorrido naquela cidade portuária. O acontecimento começou a ganhar corpo em junho de 1891, quando Valéry encontrou por acaso na rua uma catalã, por quem se apaixonou. Era uma mulher dez anos mais velha, que ele tornou a ver em outras ocasiões, mas sem ousar se aproximar dela. Segundo o testemunho do amigo Henri Mondor, “o seu langor, o ligeiro balançar da cintura, seus trajes de amazona e uma inquietante desenvoltura o tocaram a ponto do poeta se apaixonar por ela. Ele mal sabia seu nome dele e ela não o conhecia”. Numa carta a Guy de Pourtalès, Valéry confidenciou: “Pensei que estava enlouquecendo ali, em 1892, numa noite branca – branca de relâmpagos – que passei sentado desejando ser abatido.” E em outro texto mais ou menos da época: “Noite Infinita. Crítica. Talvez o efeito dessa tensão do ar e do espírito… Sinto-me OUTRO esta manhã. Mas — sentir-se o Outro — isso não pode durar (…)”  Este texto citado por Valéry (“Noite infinita. CRÍTICA …”) está relacionado com o Mémorial Pascaliano (aquele pedaço de papel no qual o filósofo de PortRoyal escreveu os detalhes de sua revelação e que usou costurado em sua jaqueta até sua morte). Para Charles Moeller “a noite de Valéry não foi nem de amor humano nem de amor divino; nem mesmo um sentimento de presença de qualquer espécie: era um susto, uma descoberta da vaidade radical de sua vida anterior. Noite mística, sob o signo do nada ”. Com o acontecimento, Valéry decidiu separar-se de si mesmo, daquele eu que classificou de falso, ao mesmo tempo que separou de si os “ídolos”, como os chamou. Em primeiro lugar, o ídolo do amor, concentrado em uma imagem que desmantelou seu intelecto: a amazona catalã; depois literatura, religião; emocionalidade, que destruiu o equilíbrio da inteligência. Mas então a violência de sua sensibilidade o forçou a buscar um lugar existencial estável. Ele escolheu, em suas próprias palavras, o intelecto, o ídolo do intelecto. A partir daí, para ele, o conteúdo deixaria de ser importante, o que seria apenas vaidade; o essencial seria o mecanismo do fato, o segredo da forma. Em todo caso, e como seria impossível prescindir totalmente de um conteúdo (o vazio seria o resultado), resolveu pelo menos desviar-se dele, para estar sempre além, naqueles lugares que o ascetismo o constituiria.

Peso 0,25 kg
Dimensões 0,12 × 16 × 23 cm