Ainda que se evidenciem os vínculos com um modo sensitivo do mundo feminino a reger palavras e visões – algo que percorre um espectro multifacetado, no qual se nota desde a dicção de autoras brasileiras esquecidas como Marilda Pedroso, entre tantas outras em áreas diferentes como, por exemplo, a norte-americana Sadie Benning, em sua conjugação de experiência e instalações audiovisuais –, os poemas de Nuvens ornamentais obtêm um procedimento de labor e consciência composicional inseparável, contudo, da leveza com que são feitos. Engendram-se como que surgidos de um quase anotar e montar um arquivo de textos. A aposta no ato, advindo de uma interiorizada “legítima defesa”, mostra uma grande, nova, força. “não sublimo o sublime”. A captura feminizante da escrita poética, a partir de suas microtessituras estéticas, sinestésicas, acaba por pronunciar um lastro poderoso de relações com as artes e a história desde a política das margens, do indie, das diferentes trends observáveis desde a Language Poetry e depois do pós-moderno (por exemplo, a postconceptuality concebida por Félix Bernstein, na hora de hoje). Envolvente e aderente se torna ler no livro de Natalia Barros todo um percurso de cultura, linguagem, criação, sem que se perca a directness de suas linhas como que desenhadas na observação nua do que se passa. Agora. Mais acima ou no plano mais terreno. Entre coisas vivas e mortas encontradas ao acaso. A cada contato cotidiano. Algo interior a uma trajetória de verbo/verso, superposições enunciativas ocorridas nos planos mais diversos e conflitivos de conhecimento/vida/palavra. À passagem das nuvens ornamentais. [Maurício Sales Vasconcelos]
Sobre a autora
Natalia Barros é poeta, cantora e paisagista. Nasceu em Santos em 1963. Trabalha com a palavra de diversas maneiras; publicou um livro: Caligrafias (Edital Proac 2011), compôs diversas canções para o grupo LUNI e para seu trabalho solo como cantora, fez entrevistas para a rádio (CCSP) com poetas e artistas, além do programa T42 no Portal de literatura CRONÓPIOS. É uma das curadoras do projeto: LANDSCAPES _ improvisos de poesia e música.
