Há na Literatura de Guilherme Ziggy um vigor que encontro no Jazz ao vivo, aqueles clubes no centro da cidade, os instrumentos quentes, Ziggy aquece a palavra quando escolhe uma palavra, ele tira a poeira dos signos linguísticos, imagine uma casa abandonada, os móveis cobertos por lençóis. então o Ziggy chega (barulho de bota), abrindo as janelas, tirando os lençóis. Consultas Autônomas é uma estreia, mas nem parece. Para um Poeta que escreve há muito, o livro é consequência, o tempo conduz os versos num sopro, sempre o tempo interno, lá fora não sei se é outono ou verão e os personagem conversam dentro dos poemas, Dr. Zime, por exemplo, o inesquecível. imagino o velho numa bela poltrona fumando o cachimbo de Magritte. Fora que ler o Ziggy é entrar em contato com a cultura mais rica, Piva, Corso, Hunter S. Thompson, o alto do prédio. tudo o que Ziggy lê, assiste, escuta, areja ainda mais os versos ventania, evocam o cinema, as ruas, Miles, Parker. Poemas que olham para a cara dos poemas, entro no quarto onde o eu lírico não está: garrafas vazias, jornal de ontem, pouca luz. Enlouquecer pode até parecer uma saída pra quem olha de fora, por dentro suor e mofo, neblina e dor, não tenho vontade de trocar de poema, troco e acontece de novo, não tenho vontade de trocar de poema o humor nos versos, escorrendo. Vigor, meus caros, o vigor de uma longa noite de Jazz. [Aline Bei]
Sobre o autor
Guilherme Ziggy é poeta, tradutor e jornalista. Atua como Diretor de Criação na editora Autonomia Literária e na revista Jacobin Brasil. É autor e tradutor do livro Antifa – O Manual Antifascista, de Mark Bray (2019). Escreveu e dirigiu o curta-documentário ‘Dias que Abalaram o Municipal’ (2018) e editou, em 2017, em parceria com a Biblioteca Roberto Piva, o jornal Pororoca. Foi também Coordenador de Comunicação da Flipei (Festa Literária Pirata das Editoras Independentes), em Paraty, em 2018 e 2019. Mora em São Paulo.
